quinta-feira, 17 de março de 2011

Um Relato do Passado

Olá gente, hoje eu vou postar um texto que achei maravilhoso do meu amigo João Figueiredo.
Esse texto foi preparado para uma aula sobre memórias, mas ele relatou muito mais do que isso.
Espero que vocês também gostem!

"Muitos haviam vindo antes dele. Muitos que nem sabiam que um dia ele existiria assim como ele não sabia quantos haviam existido antes dele. Na verdade a pequena figura confortavelmente aninhada nos braços de sua mãe não sabia de coisa alguma.


Era quase final de tarde e o sol já começava a assumir aquela aparência de uma meia gema dourada e quase líquida que se derramava por trás do horizonte irregular de edifícios tingindo as nuvens com nuances de laranja e violeta. Os sons da cidade começavam a aumentar com os carros que se espremiam nas ruas e avenidas e se punham a zurrar como burros empacados com suas buzinas irritantes.


Longe do acumulo de poluição de monóxido de carbono liberado pelos escapamentos dos carros e longe da tensão quase irracional que inevitavelmente em algum momento toma conta do corpo dos motoristas e dos transeuntes que se preparam para regressar de sues ofícios a progenitora de nosso protagonista descansava em seu leito na maternidade com sua cria adormecida sobre seu peito.


O quarto estava mergulhado totalmente no silêncio e na tranquilidade como se mãe, filho e quarto estivessem em um universo próprio. Através das persianas parcialmente cerradas da janela o brilho cálido do sol se arrastava lentamente pelas cobertas da cama. A mãe esperou pacientemente até que a camada de luz tocasse o rosto de seu filho. Minutos atrás quando o pequeno dormia na sala do berçário entre inúmeros outros bebês ele era apenas mais um, como um soldado raso em um batalhão. Mas agora que estava nos braços de sua mãe, suas feições delicadas emolduradas pelos raios lânguidos do sol ele era sem dúvida o seu maior feito.


O menino cresceu forte e saudável na casa que fora construída décadas antes por seu bisavô materno quando o bairro, hoje um dos mais abastados da cidade ainda era conjunto de terrenos lamacentos com um córrego serpenteante.


A fámilia do menino era unida e a vida do garoto sempre fora um sonho. Nada nunca lhe faltou e ele era uma criança amorosa e gentil que dizia querer ser Papa, pelo menos para as irmãs do colégio de freiras carmelitas onde estudou desde quando ainda era um imberbe.


Fora nos primeiros anos da adolescência que o já então rapazinho provou dos gostos de emoções diversas. Experimentou o mais ácido e amardo dos desabores em um período de quase seis meses. Primeiro foi a mudança. Nova casa, novos vizinhos, novas lembranças. Depois a aperda do tio, daquele que desde sempre fora o seu herói, o seu cavaleiro de armadura brilhante, o seu raio de luz na escuridão.


A seguinte lembrança jamais se apagou da mente do garoto que de certo modo beirara as raízes da premonição e profetizara a morte do seu próprio São Jorge, a queda so seu matador de dragões. Foram três dias ininterruptos de lágrimas que não cessavam, dor e muita oração ao Criador. O garoto inconsolável e de certa maneira sentindo-se culpado por ter falhado em proteger da morte o tio fitou pela última vez a face deste pela abertura do esquife envernizado. Os olhas estavam fechados, algodão saltava das narinas e o rosto estava macilento. Havia barba que não mais cresceria, uma boca que nunca mais sorriria quanto mais falar e olhos castanhos que jamais voltariam a brilhar para o sobrinho desolado, destruído. O tio elegantemente trajado nunca mais estaria a seu lado, pelo menos não materialmente mas ele ainda podia ouvir distante a voz do seu adulto favorito e lutava para que a voz não se afastasse mais e mais. Seria olutra derrota se isso acontecesse, seria sim, a vitória, mas do esquecimento.


Sentiu também a emoção antes do primeiro beijo e a sensação de vitória que consome a alma depois dele. Haviam sido novas experiências, as necessárias para que a infância singela ficasse para trás.


Quando a vida voltara a sua calmaria habitual o destino atacou novamente. A tão antiga e bem conceituada instituição de ensino ondeo garoto sempre estudara entrou em processo de venda. Foi como ver um bando de galinhas doidas correndo sem rumo momentos antes de uma tempestade. Muitas pessoas tomaram rumos diferentes do que previam inclusive nsso protagonista. Sua mãe, a melhor do mundo que sacrificara muito pelo filho decidiu sacrificar ainda mais. A dor seria devastadora para ambos mas assim ela o fez. Mandou o filho para o interior para a casa de sua irmã viúva de fazendeiro e com um filho de mesma idade.


Era uma nova mudança. Amigos. Fantasias, sonhos perdidos. Na cidadela distante onde o rapaz costumava passar suas férias escolares seria agora o seu novo mundo. Pessoas com quem convivera por curtos períodos de tempo seriam seus novos companheiros. E houve a surpresa. Nos anos seguintes o rapaz, agora um quse homem tivera o seu primeiro amos e usa primeira desilusão amorosa. Outra lembrança amarga e perpétua. Houve um segundo amor, que vingaria mas que jamis fora tçao poderoso quanto o primeiro. E o mais importante: amigos. Amigos verdadeiros. Tornousse um dos mais queridos do colégio e acumulou boas lembranças.


Depois de uma última noite regada à fermentados e destilados e perfumada de feromônios onde ele fora rei e falara do alto para todos este mundo também acabou. Indeciso se regressava para a cidade grande o rapaz sentia medo. Simplesmente não sabia o que fazer. Estava perdendo tudo: as horas plantado sob a chuva com um buquê de rosas nas mãos, o ato heróico no Museu da Língua Brasileira, os matrimônios encenados, as horas de convívio com os colegas e os anos de conhecimento estavam seimplesmente desaparecendo como se estivessem sendo apagados do tempo.


O ano que se seguiu foi de reclusão e depressão profunda. Desejos estranhos e saltos interrompidos no penhasco da loucura. Mas como tudo com excessão da morte que não possui solução este não seria o fim da tragetória do rapaz, apenas o fim quase insuportável, uma última provação para o início de uma nova etapa. Os raios da alvorada voltariam a brilhar. O seu cavaleiro de armadura brilhante e matador de dragões viria salvá-lo.


Mais um ano se passara e o agora homem estava sentindo-se bem consigo mesmo. Danificado ele havia ressurgido. Conquistara novas pessoas para ter a seu lado mas sem substituir jamais as de seu passado. Tinha também, ele percebeu, o resto de uma longa história de vida ainda com muito por escrever."
 
O blog dele é esse: http://www.chicolouco.wordpress.com/
Lá há vários outros textos lindos, aproveitem para ler também!
 
Ana Paula Minari

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